Como noto que existe muitas vezes a dificuldade de enxergar onde está o neogeógrafo, montei uma pirâmide para tentar demonstrar minha visão. Vale lembrar que se um engenheiro não cartógrafo resolve fazer um levantamento, comprar bases cartográficas, escolher algum equipamento da nossa área, ele não está se tornando nem neocartógrafo e nem neogeógrafo. Na realidade esse é um problema muito antigo, pois ele está exercendo muitas vezes ilegalmente nossa profissão. Isso não tem nenhuma relação com os "neos". O neogeógrafo é aquele que manipula e faz análise de informação geográfica, e ele faz uso de GIS com bases cartográficas já prontas e funcionando perfeitamente. E são profissionais de nível superior como um médico epidemiologista. Outrora participavam de equipes multidisciplinares com cartógrafos, hoje em dia e mais ainda no futuro próximo eles não necessitam mais do cartógrafo no dia a dia. E inúmeras áreas do conhecimento tem seus neogeógrafos.
Vejam meu texto sobre O Paleocartógrafo e o Neogeógrafo para mais detalhes.
Vejam a imagem da pirâmide e estejam a vontade para opinar e acrescentar profissionais ou mudar a forma.
O usuário leigo é aquele que vê apenas o resultado final já mastigado pelo geógrafo. Claro que essa é uma visão de GIS futurístico. Um mapa por si só precisa apenas do cartógrafo.
Coloquei o neocartógrafo meio de banda....
Quinta, 23 de abril, 2009.
Depois de escrever esse post pensei melhor e agora vejo o neocartógrafo como o profissional sem habilitação que se encaixa no perfil do analista de geoprocessamento, esse sim com habilitação em alguma das duas áreas e especialização na outra.
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Depois que escrevi sobre o neocartógrafo, fiquei com a sensação de que fui injusto. Alguns comentaram sobre esse "novo" profissional e me toquei que a confusão estava formada.
Não, o neocartógrafo não é "neo", é na realidade "old". Mas antes precisamos definir exatamente o que é um neocartógrafo.
Neocartógrafo é aquele profissional, que pode ser um engenheiro não cartógrafo, ou um matemático ou um analista de sistemas, mas na realidade pode ter qualquer formação. O que vai defini-lo será sua capacidade de programar computadores, utilizando algoritmos matemáticos e o uso intensivo de soluções matemáticas. Eles existem desde os primórdios da cartografia computacional.
Em 1990 trabalhei na Complasa, subsidiária de informática da Aerofoto Cruzeiro, e meu chefe imediato era um senhor de idade, engenheiro eletricista de formação, se não me engano, e sabia muito de "neocartografia". Para ele tudo era FORTRAN, e tinha algoritmo para tudo, transformação de coordenadas inclusive. Ou seja, ele realmente entrava na área de atuação do cartógrafo. Na época ele queria passar todo o código já feito de Fortran para C, e eu entrava aí. Mas não se percebeu melhoria na velocidade de processamento e o C dificultava para ele e outros trabalharem. Logo a idéia foi descartada e não sei se algum dia foi retomada.
Conheci alguns neocartógrafos desde então, mas o único que merece nota conheci em 1999 numa pequena software house que implementava um sistema para navegação (cartas náuticas eletrônicas). Fui chamado para confirmar o que ele fazia do ponto de vista cartográfico. Ele era engenheiro formado pelo IME e era muito bom. Como ele era o líder do projeto me passava rotinas a serem implementadas, o que eu suava um pouco (pois tinha acabado de cair de paraquedas no projeto) mas resolvia o problema. Mas, depois de algum tempo ele veio conversar comigo e me mostrou a codificação que ele mesmo tinha feito para cada uma das rotinas que havia me passado e me disse que não viu nada realmente diferente na minha codificação. Fiquei profundamente irritado, pois ele não me falou que já tinha feito tudo e estava apenas querendo confirmar. A conclusão foi que apenas em rotinas de conversão para Lambert ele precisava de mim. O resto todo era matemática e informática pura...
Nos dias de hoje o neocartógrafo praticamente não precisa do cartógrafo porque ele pode utilizar bibliotecas de funções que resolvem todo o problema cartográfico.
É esse profissional que muitas vezes é arrogante e desmerece o trabalho do cartógrafo. Claro que devem ter exceções. Os antigos neocartógrafos, por outro lado, sabiam trabalhar com a gente, apesar de às vezes nem precisarem. Esses eram bons realmente.
Ou seja, o neocartógrafo atual é aquele que sabe programar computadores, conhece muita matemática e tem acesso a uma ótima biblioteca de funções cartográficas. E do jeito que a tecnologia está, eles não precisam da gente, mesmo não tendo a capacidade ou mesmo o conhecimento cartográfico dos "oldneocartógrafos".
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A primeira vez que ouvi o termo Paleocartógrafo confesso que fiquei indignado, e senti que nossos colegas geógrafos também. Mas o tempo passou e refleti sobre o assunto e posso dizer com orgulho que sim, sou um Paleocartógrafo.
Para não me taxarem de louco, explico então. Paleo dá ideia de algo velho e ultrapassado, mas prefiro interpretar como algo antigo e muito bem embasado. Seguindo esse raciocínio posso afirmar com a maior certeza que um cartógrafo NUNCA será dispensável. Claro que não somos muito mais necessários hoje em dia do que 20 ou 30 anos atrás. Isso apesar da explosão do "geouso", do GPS e do georeferenciamento de tudo. Parece um contrasenso o aumento da demanda de "geo" e o não aumento proporcional de engenheiros cartógrafos utilizados. Precisamos notar que aumentou sim a necessidade do trabalho do engenheiro cartógrafo na produção de mapas, mas o que realmente sofreu um salto colossal foi a demanda por neogeógrafos.
No caso estou definindo neogeógrafos como aqueles profissionais que irão manipular e interpretar a informação geográfica. E eles são em sua maioria profissionais de nível superior, sejam eles biólogos, geólogos, médicos epidemiologistas, agrônomos, administradores de empresa (geomarketing), profissionais de educação e física, nutricionistas e muitos outros.
Eles não atuam no nicho do geógrafo, bem, pelo menos não a maioria. Ocorre que os geógrafos gostariam de abocanhar esse mercado, assim como nós gostaríamos que todos viessem pedir nossa benção e o datum da área. Mas o mundo mudou e o neogeógrafo veio para ficar e ele não precisa da gente para quase nada, pois os softwares atuais fazem todo o trabalho do cartógrafo. Claro que sempre vai ser necessário o profissional de cartografia nas empresas produtoras desses softwares, pena que a maioria, senão todas, estão lá fora.
O geógrafo precisa fortalecer-se nas suas áreas de atuação dominantes e se infiltrar nessas novas áreas. Já o cartógrafo também pode entrar na briga, porém ele se tornará um neogeógrafo...
Qualquer outro profissional que se intitule neogeógrafo e não tenha nível superior não passa de um profissional de nível técnico, embora alguns poucos possam transcender.
Outro profissional que surgiu é o neocartógrafo. Esse sim cheio de si e desmerecendo o engenheiro cartógrafo, pois acham que por saberem programar computadores e geometria eles estão com a vida ganha. Não sei na verdade quanto tempo isso vai durar, mas tenho a sensação de que vão quebrar a cara. Os softwares evoluem, o hardware também, logo, logo o que eles fazem vai ficar obsoleto e eles não terão diferencial para qualquer analista de sistemas. Já o paleocartógrafo sempre será necessário no preparo das bases cartográficas. O nosso mercado é pequeno e cresce muito menos, mas pelo menos estamos garantidos.
Ouvi essa semana o termo analista de geoprocessamento e quem comentou falou que seria um novo profissional. Aí fiquei triste... Na década de 1990 eu me apresentava como analista de geoprocessamento e realmente eu era. Afinal, sou engenheiro cartógrafo de formação, com mestrado em sistemas e computação, ênfase em cartografia automatizada e minha vida toda trabalhei com informática, sendo que meu cargo é analista de sistemas. Sempre me vi no meio do caminho, exatamente a definição de analista de geoprocessamento e posso garantir que ainda somos raros, pois os que estão por aí sempre pendem mais para um lado.
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Opiniões/Comentários
Muito legal a pirâmide, mas .....
Quem produz a informação (cartográfica) nesta figura ?
Ou todos produzem ?
Talvez eu seja um 'paleo'cartógrafo, pois pra mim o processo de codificação da realidade em um mapa, passa apenas pelo 'Cartógrafo' e o 'Usuário Leigo' !
http://www.imagebam.com/image/c6245e33537667
Todo esse 'meio' são visões 'futurísticas' ..... que talvez ainda precisem ser comprovadas cientificamente !
Mas a teoria é interessante !
:)
Ótimo comentário, assim as dúvidas vão sumindo.
Quem produz é o cartógrafo na base da pirâmide e se fosse gerado apenas um mapa esse seria lido pelo usuário leigo ou usuário final profissional. Já a pirâmide representa um sistema de informação geográfica, seja ele um software pronto ou diversos softwares que permitam a informação chegar ao usuário final. Para "colocar" o mapa no computador, com interface com usuário, saída para impressão etc, quem trabalha é o analista de sistema, que faz uso das informações do cartógrafo para tanto. O analista de geoprocessamento é aquele híbrido entre o cartógrafo e o analista de sistema e atualmente cursa especialização em geomática, por exemplo. Em cima deles vem os geógrafos que usam, como sempre usaram, a base cartográfica para manipular e analisar informações geográficas que podem ser densidade populacional ou renda per capita. A única diferença é que agora eles usam o computador e não mais a base em papel.
Já o neogeógrafo é aquele que faz um trabalho parecido com o do geógrafo mas trabalha com sua área específica, como por exemplo epidemias e pandemias de alguma doença contagiosa ou o impacto da concorrência nas proximidades de uma empresa. Acima deles tem o usuário comum que não vai gerar essas informações, mas apenas visualiza-las para entender ou tomar alguma decisão a partir das explicações do geógrafo.
Em situações como no googlemaps, pode-se pular a necessidade do geógrafo ou neogeógrafo, diretamente para o usuário final.
Volpi
Com relação a imagem que você mandou mais abaixo, posso dizer que ela é corretíssima na situação tradicional. E na visão mais moderna, basta você colocar tudo que está acima do cartógrafo na pirâmide dentro da elipse "usuário" da sua imagem.
Imagem do Volpi:
http://www.imagebam.com/image/c6245e33537667
Penso que a evolução das ferramentas aprimora cada profissional e no caso da cartografia ela é essencial. Já a Geografia tende a "desaparecer" pois outros profissionais tendem a absorver com mais eficácia seus conteúdos universais.